No ano de 1846 nascia Luís Mico, um negrinho que foi ganho de
presente pelo senhor Jacinto Garcia de Queiroz. Esse negrinho que foi
criado pelo seu senhor como da família. Arranjaram-no uma ama de
leite que o amamentou e o fez crescer. Dormia no canto da cama do
então poderoso senhor dos escravos.
O tempo foi passando e o Luís Mico foi ficando um belo negro
esbelto, forte e ativo. Não era tratado como escravo; era
pau-pra-toda-obra do seu senhor. Naquela época de 1866, já era
requisitado para ser reprodutor, por ser um negro esbelto, forte e de
canela fina. Alguém até manifestava o desejo de comprá-lo, mas
nunca estava à venda.
Com apenas um chamado ali estava o Luís para fazer todas as tarefas
que lhe eram incumbidas. Anos passaram e a idade do seu senhor
mostraria o seu cansaço, e cada vez mais o Luís se dedicava ao seu
pai branco e senhor. Nos fins de semana o Lúís, com os seus vinte e
dois anos, era liberado para dar seus passeios nas outras senzalas
por aquelas regiões ali existentes. Apresentava-se muito bem vestido
e calçado, parecendo um príncipe negro. Era recebido com toda
hospitalidade e carinho. Sua juventude o ajudava nas suas conquistas
amorosas e por isso deixou muitos descendentes, que eram chamados
pelos meus tios avós de irmãos, e que na década de 1950 fui
testemunha ocular ao conhecer diversos filhos e descendentes já bem
idosos; dentre os quais Madalena, Aninha, Fostino, Leopoldino e
tantos outros.
Quero ressaltar que a escravidão foi um fato consumado vergonhoso,
covarde, triste e doloroso. mas nem todos os senhores eram carrascos
assassinos dos negros tão sofridos. Alguns tinham atos de humanismo,
fraternidade, respeito e amizade; e o senhor dessa família Garcia de
Queiroz deixou uma história a ser transmitida aos seus descendentes,
falada por muitos anos da sua bondade e tolerância.
Retornando à história, como relatei, o tempo foi passando e Luís
nunca havia levado uma chibatada, somente era chamado para fazer seus
serviços normalmente. Numa certa ocasião, o seu senhor,
aprontando-se para uma longa viagem, exclamou:
_Lúís, vamos viajar alguns dias, prepare os burros e todos os
pertences necessários que vamos sair bem cedinho amanhã
E assim foi feita toda a arrumação da viagem.
Já nessa época o senhor estava mais ou menos com 66 ou 67 anos de
idade, dependendo de mais ajuda e atenção.
No dia seguinte partiram da localidade de Vieira para seu destino
planejado.
Viajando o dia inteiro, percorrido aproximadamente cinquenta
quilômetros, chegaram à tardinha em uma fazenda de muitos escravos
conhecida no município de Nova Friburgo. Estavam cansados e o senhor
foi dizendo:
_Luís, você vai ficar na senzala que eu dormirei na casa do amigo.
E assim se fez o desejado como era de costume naquela época de
escravidão.
O senhor alertou o jovem Luís:
_Amanhã me acorde cedo com os animais já arriados, prontos para
prosseguirmos a viagem. Não se esqueça.
_Sim, senhor, estarei pronto.
Ficando à noite na senzala, Luís entrou na comemoração de dia de
santo que era festejado.
Ao amanhecer o dia, já lá pelas oito horas da manhã, o senhor
percebeu que o Luís não teria feito o seu pedido. Perdeu sua hora
de levantar e em vez de o Luís acordar o senhor, foi o senhor que
foi acordar o Luís. Chegando à senzala o senhor
perguntou:
perguntou:
_Perdeu a hora, Luís? Cadê os cavalos arriados?
Descendente de Luís Mico
Então o Luís saiu correndo para pegar os animais e fazer o
prometido. Partiram novamente seguindo o rumo desejado; mas o Luís
sempre com sono cambaleando em cima do animal. Quando chegava numa
porteira, Luís com muito sono, por ter dançado a noite inteira, o
senhor que o chamava para abrir a porteira. E foi durante todo o
percurso daquele dia que o senhor teve que o chamar para abrir as
porteiras.
Lá pela quinta porteira o nervosismo tomou conta do seu senhor, e o
Luís cambaleando em cima do cavalo. O senhor falou rigorosamente:
_Já não te falei, Luís? Presta atenção! _ e o senhor lhe deu uma
chibatada.
Aquele ocorrido mudou o rumo da história para quem deu a chibatada e
para quem levou. Os dois começaram a chorar pelo fato ocorrido. O
Luís disse:
_Desculpe! Isso não vai mais acontecer! Estou muito errado com o
senhorzinho.
_Perdoe-me, Luís! Perdi a cabeça com você. Não irei mais repetir
tal arrogância.
Aquele momento foi um marco onde mostrou o amor, o respeito e
consideração um pelo outro, embora de uma maneira um pouco
trágica... Assim era naquela época.
Neste relato que quando criança ouviu falar, após quase sessenta
anos, quero dizer que Deus fez o homem negro, branco e a ele deu o
direito de escolher seu destino; mas que seja de uma maneira passiva
e bondosa, fazendo um mundo melhor.
Poucos anos depois do acontecido o senhor Queiroz morreu e o negro
Luís Daniel viveu por muitos anos e deixou uma grande descendência
em Vieira, Bonsucesso e diversos distritos de Teresópolis e
Friburgo. Aqui foi copiado o dia do seu sepultamento, o apelidado
Luís Mico. Este relato é um recibo desse dia:
“Leopoldino
Luís Daniel pagou a quantia de dezesseis mil réis do enterro de seu
pai Luís Daniel com noventa e seis anos de idade, falecido em 2 de
dezembro de 1942.”
naquela época.
Saudações! Gostaria de saber se você tem informações sobre Florentina Delfina(Garcia) de Queiroz casada com Leandro Jacintho Garcia. São meus antepassados. Desde já agradeço!
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