Jacinto Garcia de Queiroz
Nos anos de 1830 ou
1835, morava um caboclo de sobrenome Vieira que fazia tratamentos com
ervas medicinais para pessoas doentes. Então quando tinha alguém
enfermo, dizia-se: “Vamos lá no Vieira que ele cura!” E esse
nome foi se rotulando nesse local.
O distrito de Vieira
começa na Ponte da Formiga seguindo em direção ao Alto do Felício
Pinto, como era chamado, hoje Alto de Vieira, na divisa de
Teresópolis com Nova Friburgo. Numa extensão de nove a doze
quilômetros mais ou menos. Ao norte fazendo rumo com Sumidouro,
Fazenda São Bento; ao sul Boa Vida e Bonsucesso; ao leste fazendo
divisa com Nova Friburgo; e ao oeste fazendo divisa com Santa Rosa e
Mottas; englobando aproximadamente mais de mil alqueires de terra.
Um dos primeiros
proprietários dessa vasta área de terra, chamava-se, segundo
contaram, Jacinto Garcia de Queiroz, que recebeu uma concessão de
terra extraída de uma sesmaria autorizada por João Luís Siqueira
de Queiroz, senhor com autoridade do Império para que pudesse
promover, desbravar, colonizar e desenvolver essa região inóspita e
um pouco selvagem.
Onde promovia o
desenvolvimento dessa região com sede na Fazenda Vista Alegre. Esse
senhor, Garcia de Queiroz, ao receber essa concessão veio a
construir moradia nos arredores de terras de herdeiros de Antônio
Custódio, ao norte do Rio Formiga distanciada da margem mais ou
menos trezentos metros.
O desmatamento teve
início nos arredores de sua residência descendo na vazão do Rio
Formiga até no restaurante Linguiça do Padre. Seguindo a leste, nas
margens do Rio Formiga, em sentido à nascente, acima do hotel São
Moritiz, ultrapassando um pouco a Praça Cruzeiro.
Ao decorrer dos anos,
ao serem divididas seguiram em outros ramais como Rua dos Ipês, hoje
Imperial, também Rua dos Canudos, seguindo em direção a São
Bento. Em sentido oeste, também Calado e Serra do Palmital, etc.
Lá pelos anos de 1870,
Vieira foi dividida para cinco herdeiros, entre os quais: Modesto
Garcia de Queiroz, Manoel Garcia de Queiroz, Antônio Garcia de
Queiroz e duas irmãs que venderam seus direitos e foram se
estabelecer na região de Nova Friburgo, na cidade e regiões de Bom
Jardim, segundo contam.
Ficando três da
família no local, a Fazenda Vieira ficou para Modesto Garcia de
Queiroz; Manoel Garcia de Queiroz, Fazenda Sertão; e Antônio Garcia
de Queiroz, Fazenda Palmital. E as duas partes que foram transferidas
para terceiros ficaram no sentido abaixo do restaurante Linguiça do
Padre até na Ponte da Formiga, seguindo na estrada da buracada, em
direção a São Bento fazendo vertente com Independente de Mottas.
Falando um pouco das
origens dessas pessoas desbravadoras, esse primeiro senhor que
adquiriu essas terras é de origem portuguesa e espanhola. Trouxe
consigo diversos escravos e famílias tradicionais hoje no nosso
local de sobrenome Francisco do Canto, Dias e Rosa. Pessoas com
habilidades construtivas e também cultura de ensinamentos como
professores. Um dos primeiros da família Canto a se estabelecer
nessa região foi o pai de Marcelino Francisco do Canto; onde deixou
muitos descendentes que entre as famílias Garcia e Canto tiveram
diversos enlaces matrimonias.
A segunda família
tradicional que veio a se estabelecer em Vieira e nas redondezas, lá
pelos anos de 1870, foi a Silva da Cunha. Vindo mais da região de
Nova Friburgo, de terras frias do Campo do Coelho, como era chamado;
que englobavam Fazenda Mendes da Veiga, Barracão dos Mendes, Salina,
São Lourenço e etc.
Pelos anos de 1890,
mais ou menos, vem se estabelecer em Vieira a família de origem
portuguesa, Custódio Corrêa.
Dessa época em diante,
diversas outras famílias de origem italiana, alemã, suíça,
portuguesa, espanhola, etc., foram adquirindo seu pedaço de terra
nessa região.
Na data de 1875,
aproximadamente, na região de Bonsucesso e Vieira, estabelecesse a
família Gallo, Baptista Granito, Dallia, de origem italiana. São
grandes os descendentes de todas as nacionalidades: Antunes Nogueira,
Araújo, Magalhães, Macedo, Cândido, Pereira, Rocha, Oliveira e
diversas outras.
Ao findar a primeira
metade do século dezenove foi criado um decreto n° 1270, de 28 de
dezembro de 1862, assinado pelo desembargador Luiz Alves Leite de
Oliveira Belo, fidalgo e presidente da província do Rio de Janeiro,
criando a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão da
Sebastiana, no atual local de Venda Nova, pertencendo à Nova
Friburgo.
Terras de Sebastiana
passou a pertencer á Teresópolis em 17/12/1901, assinado o decreto
pelo governador Quintino Bocaiúva. Terras de Sebastiana englobava
diversas localidades, entre as quais: Vieira, Bonsucesso, entre
outras cercanias.
A partir de 1910 em
diante começou a surgir pequeno comércio em Vieira, através de
transportes em tropas de burros. Um dos primeiros comércios em
Vieira foi do José Corrêa Leitão, português que veio a se casar
com a viúva de Modesto Garcia de Queiroz. Iniciou estabelecimento em
Vieira onde transferido para seu sobrinho no futuro por volta de
1917, Antônio Custódio. Também existiu nos arredores do cemitério
de Vieira o comércio de Joaquim da Silva Cunha. Esse terreno do
cemitério que foi doado pelo mesmo para tal necessidade.
José Corrêa Leitão,
ao chegar em Vieira, sua atividade foi exclusivamente na agricultura,
no plantio de marmelo, batata inglesa, feijão, milho e etc.
Culturas, também, de subsistência e pequenas criações de gado e
vacas leiteiras. Também animais de cela entre os quais o cruzamento
de jumento com égua.
José Corrêa Leitão,
ao fazer uma viagem a Portugal, trouxe o jovem Antônio e duas irmãs,
Conceição e Amélia, onde no momento ficaram na cidade do Rio de
Janeiro. Chegando aqui no Rio de Janeiro, Antônio Custódio veio
visitar a fazenda de seu tio José Corrêa, onde encontrou sua prima
Petronílea, então começou o namoro; que no futuro se concretizou
em matrimônio.
Nessa época de 1917 em
diante, veio assumir uma parte da fazenda do seu tio, onde também
construiu o primeiro comércio em geral, usando o transporte através
de animais_ tropas de burros. Entre as viagens para abastecer seu
comércio viajavam para Sumidouro, Nova Friburgo ou à cidade de
Teresópolis. Um dos grandes incentivadores foi o José Francisco
Lippi, italiano, de Venda Nova, onde era um grande comerciante que
vendia muitos excedentes de mercadorias para Antônio Custódio. Daí
em diante, nas décadas de 1920 e adiante, foi prosperando o seu
comércio e fazendo o lugar crescer também. Vendendo de tudo um
pouco, dando crédito para aquela comunidade que até então não
tinha acesso a certas mercadorias. Esse comércio tornou-se e foi
vigoroso até 1966, época em que foi transferido para terceiros.
Vista
panorâmica de Vieira, Pedra do Cadeado, que foi traduzido para o
nome de Calado, Vieira.
Então podemos concluir
que um dos marcos iniciais desse distrito de Vieira foi o português
Antônio Custódio, que influíra no desenvolvimento da região.
Tivemos Vieira antes do
Hotel São Moritiz quando se falava: “Vamos passar na localidade
daquela fazenda Vieira.” E depois, 1944, ao ser concluído o hotel,
falava-se assim: “Vamos passar lá em Vieira onde tem aquele
majestoso Hotel São Moritiz.”
Contando um pouco sobre
o Antônio Custódio, na época da Segunda Guerra Mundial, as
dificuldades eram imensas em todo o país; não havia trabalho para o
sustento de muitas famílias, esse senhor com a sua hábil
administração, promovia frentes de trabalho para abrir estradas
vicinais no intuito de chegar as demais localidades: Boa Vida,
Fazenda São Bento, Estrada da Buracada... E com isso ajudava na
subsistência de famílias carentes.
Através desta história
relatada, contada por descendentes do mesmo, vem provar a bondade e
perseverança desse personagem que temos por obrigação, em memória,
homenagear esse grande homem de fibra.
Outros personagens de
Vieira que ajudaram a crescer e desenvolver esse distrito:
Arthur Garcia de
Queiroz, fazendeiro, filho de Manoel Garcia de Queiroz (capitão da
guarda nacional na época do Império).
Antônio Garcia de
Queiroz, irmão de Manoel G. de Queiroz e Modesto G. de Queiroz.
Deixou uma prole de dezesseis filhos. Veio a falecer no dia
16/09/1933, aos oitenta e seis anos.